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quinta-feira, 16 de abril de 2009

Uma crítica ao texto "Os Alunos" de Eduardo Galeano

Em nossa sociedade as crianças são divididas em três grupos, segundo Galeano no texto “Os alunos”, intitulados por ele como “os de cima”, “os de baixo” e “os do meio”. Neste texto são descritos os sentimentos e ações que limitam as crianças em decorrência dos rumos de nossa sociedade. Cada um dos grupos possui suas peculiaridades, mas todos têm um fator em comum, a castração da infância.

“Os de cima” criados em uma bolha de medo, vivem em um país ou cidade que não conhecem. São assombrados pelos possíveis assaltos e seqüestros que seu dinheiro atrai. Crescem sem identificação com lugar algum, são despojados de identidade cultural, mas possuem a certeza de viver em uma realidade cheia de perigos. Educados em uma realidade virtual em que o contato com a realidade concreta não passa da idéia do medo ou do consumo.

Após sua explanação sobre “os de cima”, Galeano discute o contraste destes com “os de baixo”. Aqui o autor nos faz perceber as diversas realidades que podem ser pintadas de acordo com a vida de cada criança. Enquanto “os de cima” vivem sob o medo de possíveis danos a seu patrimônio material ou vital, e evitam o contato com essa realidade freqüentando os metrôs de Paris e Nova York, “os de baixo” vivem sem poder desviar de uma realidade onde as balas são de chumbo e não de “arminhas” a laser.

Enquanto “os de cima” enfrentam o medo dos assaltos, “os de baixo” são insultados pela sociedade do consumo que lhes oferece o que também lhes é negado. Assim, “os de baixo” se jogam aos assaltos e seqüestros tão temidos por outras crianças. O desemprego, a falta de oportunidade, o ensino precário e a flexibilização do emprego, são algumas das realidades com as quais as crianças do grupo de baixo têm enfrentado em seu dia-a-dia.
Em meio a esses dois mundos, que apesar das diferentes situações possuem dificuldades sociais a serem enfrentadas, encontram-se as crianças do meio. Estas vivem entre duas realidades que se cruzam nas suas contradições, como os assaltantes e os assaltados, os empregados e os patrões. “Os do meio” compreendem a classe média escravizada pelo pânico. As situações que este grupo enfrenta transitam entre “os de baixo” e “os de cima”, como a possível perda do emprego e de ser assaltado.“Os do meio” assim como possuem maior poder aquisitivo como “os de cima”, também se frustram com o que não lhes é possível alcançar apesar do apelo consumista, como “os de baixo”. Para estas crianças o futuro que lhes aguarda, segundo Galeano, é uma vida de reclusão vigiada pelas babás eletrônicas.

Considerando todos estes problemas sociais enumerados pelo autor, vejo o medo como um sentimento sem classe social. Aqui percebe-se que independente do grupo de baixo, de cima ou do meio, de uma forma ou de outra é nas ruas que o perigo está sempre presente para nossa sociedade, seja pela circulação das drogas ou balas perdidas, pelos assaltos ou seqüestros. É nas ruas que se encontra o medo que assombra a todos. Vive-se em uma sociedade que cultua o medo, este sentimento é que parece mover as pessoas, deve-se dançar conforme sua música.

Não importa se rico ou pobre todos temem a perda da vida, o que muda é a situação. Enquanto uns são assaltados e sequestrados, outros vivem em meio a balas perdidas e tráfico de drogas. Por traz deste culto ao medo encontramos o maior mal de toda a humanidade, a desigualdade absurdamente desigual. Esse mal estimula cada dia mais a ocorrência destas situações que desapertam o medo. Assim, diante destas diferenças estrondosas só posso concordar com Galeano, são privilegiados os meninos e meninas, indiferente da pertença aos grupos por ele citados, que conseguem ser crianças em nossa sociedade.

2 comentários:

Jorcenita disse...

A ocorrência da concorrência ocasiona a violência e as divisões entre os de cima, os de baixo ou os do meio, causam um entranhamento com o outro como se este fosse um desconhecido e não o próprio 'irmão'. Bela resenha Lari.

Jorcenita disse...

A ocorrência da concorrência ocasiona a violência e as divisões entre os de cima, os de baixo ou os do meio, causam um ESTRANHAMENTO com o outro como se este fosse um desconhecido e não o próprio 'irmão'. Bela resenha Lari.