As ciências das religiões têm por objetivo investigar de uma perspectiva externa todas as religiões procurando descrever semelhanças e diferenças. Essas descrições não podem ser comparadas a de fiéis sobre suas crenças, o cientista nunca conseguirá recriar a experiência por mais ilustrativa que seja sua descrição. O autor do livro exemplifica melhor essa distância entre o que se vê e o que se sente.
Um nutricionista pode explicar que certo alimento consiste numa dada mistura de componentes orgânicos, e que, se for resfriado a uma determinada temperatura, terá um gosto doce e fresco ao entrar em contato com o palato humano; mas isso não será a mesma coisa que tomar de fato um sorvete. (GAARDE, 2000. p.13)
A importância desses estudos sobre as religiões pode ser compreendida ao olharmos rapidamente para o mundo ao nosso redor. Ouvimos falar de diversos conflitos religiosos, guerras promovidas em nome de Deus ao mesmo tempo em que diversas religiões promovem ajuda comunitária aos pobres e destituídos do Terceiro Mundo. Um conhecimento sólido sobre religiões torna-se importante em nosso mundo cada vez mais multicultural, assim como é difícil adquirir uma compreensão da política internacional sem que se compreenda o fenômeno da religião.
O surgimento deste fenômeno já foi explicado de diversas formas, uma delas afirmava que a religião surgiu quando o homem começou a acreditar que animais, plantas, montanhas, a lua e o sol tinham espíritos. Outras teorias dizem que a religião é um produto de fatores sociais e psicológicos, ou seja, apenas um elemento das condições sociais do homem. Já nas ciências das religiões modernas2 “predomina a ideia de que a religião é um elemento independente, ligado ao elemento social e ao elemento psicológico, mas que tem sua própria estrutura”. (GAARDE, 200. p.16)
Dentre a procura dos estudiosos por traços comuns as religiões o Sagrado tornou-se a palavra-chave, porque descreve a natureza da religião e o que ela tem de especial. Sagrado refere-se aquilo que está separado, que é diferente de tudo mais, inatingível e consagrado, enquanto o profano é o que está do lado de fora do templo, o oposto do sagrado.
A ética e a religião não estão tão separadas como o sagrado e o profano. Nos dez mandamentos escritos por Moisés havia os que se tratavam de religião e os relativos à ética. Hoje em uma sociedade onde coexistem diversas religiões é difícil vincular a ética a uma religião, por isso muitos países aceitam a Declaração dos Direitos Humanos – proclama pelas Nações Unidas - como uma afirmação ética comum, seja qual for a religião ou perspectiva do país.
As religiões não estão só relacionadas apenas ao intelecto, elas envolvem também as emoções que são essenciais a vida humana. As pessoas extravasam suas tristezas e alegrias pela música, dança e canto presentes em rituais religiosos.
Portanto, as religiões são um fenômeno complexo existente em todas as sociedades. Elas influenciam a vida humana no que diz respeito à ética, à política e à vivencia pessoal. O estudo desse fenômeno deve ser compreendido dentro de sua importância social e de sua complexidade, para entendermos o funcionamento da sociedade deve-se também entender o funcionamento das religiões. Não há como compreender as ações humanas sem a perspectiva religiosa, já que ela existe desde o começo da história que conhecemos.
1GAARDER, Jostein; HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry. O livro das religiões. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
2Sociologia da religião, filosofia da religião, psicologia da religião
Um comentário:
Olá Larissa,
Incrível, mas é mesmo como diz o livro que cita: nada na vida da nossa sociedade está imune à influência religiosa. O curioso é que enquanto que nas sociedades mais desenvolvidas há cada vez mais um alheamento das populações à religião, mas em vias de desenvolvimento, pelo contrário, é a religião que mais ordena. E isso tanto pode ter efeitos altamente perversos, como o estímulo do que chamamos de terrorismo (e que o é, na realidade), como pode ser fundamental para estabelecer regras que não seriam respeitadas da mesma maneira se fossem impostas por um lei civil. Dou-lhe um exemplo curioso, que conheço bem: há uns anos, na República Islâmica da Mauritânia foi levantada a proibição de venda e consumo de bebidas alcoolicas. O que aconteceu a seguir foi dramático: começou a morrer gente em acidentes de automóvel e, pior, muito pior, surgiram problemas sociais gravíssimos que ninguém tinha pensado, como famílias ficarem a passar fome porque o salário foi todo gasto no mesmo dia a beber cerveja, bem como situações de violência doméstica. Como tudo se resolveu: o governo combinou como os religiosos e em nome de Deus, Alá, como chamam os islâmicos, voltou a interditar-se o alcool. E tudo voltou à normalidade. Mesmo!
Um beijo,
Alexandre Correia
PS - Gostava que escrevesse mais. A sério!
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